sábado, 3 de maio de 2014

Sistema Carcerário Brasileiro: O gigante do descaso




           
O sistema carcerário brasileiro constitui uma aberração social, nos moldes apresentados na atualidade aqui no Brasil. De forma a ignorar manifestamente o que prevê os princípios e garantias fundamentais do indivíduo, sobretudo no que concerne à ótica da dignidade da pessoa humana. Na condição de país em desenvolvimento, o Brasil se revela acometido por diversas mazelas sociais, as quais denotam uma realidade desumana, se analisarmos tal situação considerando o nível de evolução social que o homem atingiu sob diversos aspectos.
Afinal, outrora afirmou o ilustre Nelson Mandela: “Costuma-se dizer que ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado dentro de suas prisões. Uma nação não deve ser julgada pelo modo como trata seus cidadãos mais elevados, mas sim pelo modo como trata seus cidadãos mais baixos.” Tal afirmação decorre de experiência pessoal vivida por Mandela, valendo salientar que não podemos compará-lo, sob nenhum aspecto, com os criminosos que vivem nas penitenciárias brasileiras.        
A penitenciária nasce com o objetivo de encarcerar o indivíduo que cometeu um delito, a fim de retirá-lo do convívio social, prover sua ressocialização, “devolvendo-o” para a sociedade. A pena, ou sanção penal, tem o objetivo de privar o indivíduo pelo tempo que for necessário para reabilitá-lo ao convívio social. No entanto, o cenário vislumbrado no Brasil revela que tanto a legislação de execução penal se mostra utópica, quanto o sistema carcerário brasileiro é uma farsa.
Segundo dados calculados pelo GLOBO com base em duas listas, compiladas em 2003 e 2013 pelo International Centre for Prison Studies (ICPS), da Universidade de Essex, na Inglaterra, a população carcerária no Brasil cresceu avassaladoramente, nos últimos dez anos, alcançando o percentual de 71,2%, contra 8% da média dos demais países. No ano de 2003, o Brasil ocupava a 73ª posição no ranking per capita dos países que mais prendem. Subiu 26 posições no relatório de 2013, ocupando hoje o 47º lugar. Em números absolutos, a população carcerária do Brasil passou de 285 mil para 548 mil nos últimos dez anos, num ritmo muito maior do que o crescimento da população. Isso levou o país da quinta para a quarta posição no ranking mundial, atrás de EUA, China e Rússia.
Além dos assustadores dados que revelam o crescimento da população carcerária é o fato que atesta o total descaso com essa parcela da sociedade. Sim, porque detento, preso ou interno é sociedade. O que, no entanto, não parece ser compreendido pelas autoridades competentes no momento que não se vê um posicionamento enérgico e eficaz por parte do Estado: seja na fiscalização do cumprimento da lei de execução penal, seja na implementação de melhorias no sistema carcerário brasileiro.
Os presídios brasileiros encontram-se divididos tal quais as demais áreas da sociedade brasileira: por classes. A cruel estratificação em classes sociais acomete os internos, de forma que não há interesse em melhorar o sistema prisional, haja vista a maioria dos que lá se encontram, antes mesmo de adentrar, já pertencia às classes subalternas e são na maior parte negros de baixo poder aquisitivo. Dessa forma, a penitenciária é fidedigna extensão da sociedade. E se viver no Brasil já se considera um desafio, principalmente no que tange às políticas sociais, quanto mais para os que se encontram encarcerados e muitas vezes condenados e crucificados pela própria sociedade.
No entanto, deve-se atentar que não se deve manter apático observando de maneira estanque, cada vez mais, o crescimento da população carcerária. A situação é grave e necessita de uma intervenção urgente, não só no sentido do combate à criminalidade, mas sim de evitar o ingresso à penitenciária, e muito mais: fazer com que aqueles que já se encontram no cárcere “paguem” por seus crimes e tenha condições de retornar ao final do cumprimento da pena, para o convívio social e não como criminosos especializados, porque criminoso não é “profissão”, ou pelo menos não deveria ser.

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